As infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) são, cada vez mais, apontadas como umas das principais preocupações no que se refere à segurança do paciente, sendo assim, sua vigilância e prevenção devem ser encaradas como prioritárias em todos os estabelecimentos de saúde que estão comprometidos em prestar assistência segura (WHO, 2009). Toda esta preocupação se dá pelo fato de que essas infecções geram um aumento significativo das taxas de morbidade, mortalidade e tempo de permanência no hospital, o que, consequentemente, aumentam os custos da assistência ao paciente (DALBEN, et al., 2013).
O Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças (European Centre for Disease Prevention and Control – ECDC) divulgou que a taxa anual de pacientes que adquirem IRAS é de quatro milhões de pessoas, o que ocasiona cerca de 37000 mortes, e tem um custo estimado de de sete bilhões de euros (EUROPEAN CENTRE FOR DISEASE PREVENTION AND CONTROL, 2008).
Tendo em vista o grande impacto das IRAS, comprometendo a qualidade do serviço de saúde prestado, influenciando negativamente o desfecho e aumentando os custos do tratamento, os profissionais e os usuários do serviço de saúde tem apresentado uma maior preocupação em diminuir a ocorrência de episódios, tendo em vista que, segundo Harbarth et al. (2004), pelo menos 20% das IRAS são preveníveis.
Em meados de 1800, começaram o surgir estudos que estabeleciam a ocorrência de transmissão de doenças dentro das unidades de assistência a saúde através das mãos dos profissionais (WHO 2008). Em 1847, Ignaz Semmelweiss realizou um estudo muito divulgado até os dias atuais, no qual demonstrou uma redução da taxa de infecções de 18,3% para 1,2% apenas implementando a higienização das mãos dos estudantes e obstetras com água clorada antes do atendimento às gestantes (CÉLINE, 1998).
A higiene das mãos realizada rotineiramente remove a microbiota transitória, que coloniza as camadas superficiais da pele, e está mais comumente relacionada às IRAS (WHO, 2009). Microrganismos transitórios sobrevivem na superfície da pele e esporadicamente podem até se multiplicar (KAMPF; KRAMER, 2004).
Estes microrganismos são adquiridos por profissionais de saúde durante o contato direto com pacientes ou com superfícies ambientais contaminadas próximas ao paciente (WHO, 2009).
Até a atualidade vários estudos ainda nos mostram inúmeras evidências de que a higiene das mãos é a medida mais efetiva na prevenção destas infecções (CAPRETTI, et. al., 2008; PITTET, et. al., 2004; NGUYEN, et. al., 2008).
Mesmo com todas as evidências da importância da higienização das mãos para a prevenção de IRAS, esta medida muito simples ainda enfrenta vários desafios. Estudo de revisão que pesquisou a adesão dos profissionais à higienização das mãos encontrou uma variação da adesão entre 7,6-93,6% (OLIVEIRA; PAULA, 2011), isto significa que em um estudo que avaliou adesão, o profissional higienizou as mãos somente 7,6% das vezes que ele deveria ter higienizado durante a assistência ao paciente.
A higienização das mãos, uma ação muito simples, reduz infecções e aumenta a segurança dos pacientes em todos os ambientes, por isso a importância do trabalho contínuo para conscientização dos profissionais de saúde, gestores de hospitais e autoridades da área de saúde devem ter um trabalho contínuo para valorização da higienização das mãos e melhoria da adesão à prática como fator fundamental na prevenção de IRAS.
Referências
CAPRETTI, M. G.; SANDRI, F.; TRIDAPALLI, E.; GALLETTI, S., PETRACCI, E.; FALDELLA, G. Impact of a standardized hand hygiene program on the incidence of nosocomial infection in very low birth weight infants. Am. J. Infect. Control., v. 36, p. 430-5, 2008.
CÉLINE, L. F. Vida e obra de Semmelweis. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
DALBEN, M. F.; et al. Colonization pressure as a risk factor for colonization by multiresistant Acinetobacter spp and carbapenem-resistant Pseudomonas aeruginosa in an intensive care unit. Clinics., v. 68, n. 8, 2013.
EUROPEAN CENTRE FOR DISEASE PREVENTION AND CONTROL. Annual epidemiological report on communicable diseases in Europe 2008. Stockholm, 2008.
HARBATH, S.; SAX, H.; GASTMEIER, P. The preventable proportion of nosocomial infections: an overview of published reports. J Hosp Infect. 2003 Aug;54(4):258-66
KAMPF, G.; KRAMER, A. Epidemiologic Background of Hand Hygiene and Evaluation of the Most Important Agents for Scrubs and Rubs. Clin. Microb. Reviews, V. 17; n. 4, p. 863–893, 2004.
NGUYEN, K. V.; NGUYEN, P. T.; JONES, S. L. Effectiveness of an alcoholbased hand hygiene programme in reducing nosocomial infections in the urology ward of Binh Dan Hospital, Vietnam. Trop. Med. Int. Health, v. 13, p. 1297-1302, 2008.
OLIVEIRA, A. C.; PAULA, A. O. Monitoração da adesão à higienização das mãos: uma revisão de literatura. Acta Paul Enferm 2011;24(3):407-13.
PITTET, D.; SIMON, A.; HUGONNET, S.; PESSOA-SILVA, C. L.; SAUVAN, V.; PERNEGER, T. V. Hand hygiene among physicians: performance, beliefs, and perceptions. Ann Intern Med. v. 141; n. 1, p. 1-8, 2004.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Guidelines on Hand Hygiene in Health Care. First Global Patient Safety Challenge Clean Care is Safer Care. Geneva: World Health Organization, 2009.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). World Alliance for Patient Safety. Summary of the evidence on patient safety: implications for research: the research priority setting working group of the World Alliance for Patient Safety. Geneva: World Health Organization, 2008.