A parada cardiorrespiratória (PCR) é a interrupção súbita da respiração e da circulação sanguínea, culminando em perda da consciência¹.
A PCR é uma emergência cardiovascular de alta prevalência e com alta taxa de morbidade e mortalidade. No ambiente extra-hospitalar cerca de 80 % dos casos de PCR ocorrem nos ritmos de fibrilação ventricular (FV) e taquicardia ventricular (TV), sendo que há possibilidade de bons índices de sucesso na reversão caso sejam tratados rapidamente e adequadamente. Para cada minuto transcorrido após o início da PCR sem atendimento perde-se 7 a 10% de chance de retorno da circulação espontânea².
Neste contexto é de suma importância o acesso público aos desfibriladores externos automáticos (DEA) propiciando a desfibrilação precoce em até 3 a 5 minutos do início da PCR, o que pode elevar o aumento da taxa de sobrevivência em até 50 a 70% ².
No ambiente intra- hospitalar, entretanto, os principais ritmos de PCR são a atividade elétrica sem pulso (AESP) e a assistolia, que possuem pior prognóstico e taxa de sobrevida inferiores a 17% ².
O Suporte Básico de Vida (SBV) tem como principal objetivo propiciar o atendimento imediato às vítimas de PCR aumentando as chances de sobrevivência. O SBV consiste no rápido reconhecimento da PCR e acionamento rápido do Serviço Médico de Emergência, realização das compressões torácicas de alta qualidade e uso do DEA o quanto antes possível³.
O rápido reconhecimento da PCR e o acionamento do Serviço Médico de Emergência é imprescindível para o bom desfecho da PCR. Profissionais de saúde e pessoas leigas devem estar preparados para reconhecer os sinais da emergência.
Os sinais de uma vítima de PCR são ausência de consciência, ausência de respiração e ausência de pulso. Profissionais de saúde devem se certificar da ausência desses três achados para confirmarem o diagnóstico. Entretanto, pessoas leigas não são orientadas a investigar pulso dada a dificuldade da técnica e ao fato de poderem se confundir durante a avaliação. Sendo assim, leigos devem reconhecer uma vítima de PCR apenas pela ausência de consciência e ausência de respiração e tão logo identifiquem a emergência devem acionar o Serviço Médico de Emergência e iniciarem as compressões torácicas.
As compressões torácicas de qualidade são garantidas por meio de força e rapidez durante as compressões, devendo-se aprofundar o tórax de uma vítima adulta entre 5 e 6 cm e manter uma frequência de 100 a 120 compressões por minuto. Além disso, garantir a qualidade das compressões depende também do retorno total do tórax entre uma compressão e outra e em minimizar as interrupções das compressões².
A cada dois minutos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) deve-se trocar o socorrista que executa as compressões torácicas afim de evitar a exaustão e garantir a qualidade das compressões³.
As ventilações devem ser realizadas por meio de dispositivos de barreira e somente após 30 compressões, são realizadas duas ventilações de 01 segundo cada, suficientes para promover a elevação do tórax. O cuidado para não realizar hiperventilação deve ser constante, uma vez que a hiperventilação diminui o retorno venoso e consequentemente o débito cardíaco e aumenta as chances de distensão gástrica, vômitos e broncoaspiração ² ³.
Assim que disponível o DEA deve ser a prioridade do atendimento e deve instalado com rapidez. O socorrista deve solicitar que as vítimas se afastem e não toquem na vítima durante a análise do ritmo. Após a análise do ritmo cardíaco, sendo este uma fibrilação ventricular ou uma taquicardia ventricular sem pulso o DEA indicará o choque. A luz que se ascende no aparelho indica que o aparelho está carregado e pronto para deflagrar o choque. O socorrista deve ter o cuidado de solicitar novamente que as pessoas se afastem antes de acionar o botão do choque afim de evitar possíveis acidentes² ³.
É importante saber que a cada dois minutos o DEA solicitará que a RCP seja interrompida para que uma nova análise do ritmo cardíaco seja realizada, sendo o ritmo passível de choque, o DEA será carregado novamente para que um novo choque seja deflagrado. Se o ritmo não for passível de choque o DEA contraindicará o choque e a RCP deverá ser iniciada imediatamente.
O atendimento perdura até o retorno da circulação espontânea ou até que o Serviço Médico de Emergência assuma o caso.
Referências Bibliográficas
- Luciano PM, Matsuno AK, Moreira RSL, Schmidt A, Pazin Filho A. Suporte básico de vida. Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. 2010 ; 20( 2): 230-238.
- Bernoche C, Timerman S, Polastri TF, Giannetti NS, Siqueira AWS, Piscopo A et al. Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):449-663
- American Heart Association- Guidelines CPR ECC 2015. Destaques das diretrizes da American Heart Association 2015 para RCP e ACE. AHA, 2015.